MUDANÇA DE COR EM PRODUTOS PLÁSTICOS PODE FACILITAR RECICLAGEM DE DIFÍCIL TRIAGEM, E GERALMENTE PRODUZIDO A PARTIR DE MISTURAS, PLÁSTICO PRETO USADO NA FABRICAÇÃO DE ELETRÔNICOS TEM MENOR VALOR COMERCIAL
O plástico, fabricado a partir de resinas derivadas do petróleo, aos poucos é substituído por
materiais mais sustentáveis. Mas ainda convivemos com uma infinidade de embalagens e
objetos plásticos. Quando é inevitável usar, o caminho menos nocivo é reciclar. De acordo
com a Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), 25,6% do resíduo plástico
gerado no Brasil retorna ao mercado na forma de resinas recicladas pós-consumo. O material
destinado à reciclagem é triado de acordo com critérios como categoria, densidade, peso e
cor. O plástico preto, de triagem difícil e geralmente produzido a partir de misturas, vale 60%
menos do que os demais.
O plástico constitui 35% dos eletrônicos portáteis, sendo 60% na cor preta. Não há um cálculo
preciso do total desperdiçado, mas a Indústria Fox estima que 80% das cerca das 230 mil
toneladas de plásticos desses aparelhos que entram no sistema de logística reversa podem
parar em aterros. O entrave principal é que a técnica mais usada para fazer a triagem dos
plásticos é a infravermelha, que não funciona para a cor preta. “Para separar, teríamos que
usar tecnologia muito cara (classificação por sensores de grãos únicos), o que inviabilizaria a
produção em escala”, diz Marcelo Souza, CEO da Indústria Fox e membro da Coalizão
Empresarial por um Tratado Global dos Plásticos.
A ONG Ecopatas lida diariamente com essa questão, na etapa da triagem dos plásticos que
serão encaminhados à reciclagem. A organização, que existe desde 2018, já pagou a castração
de 12,3 mil animais de rua com recursos levantados pela venda de 332 toneladas de
tampinhas plásticas e 17 toneladas de lacres de alumínio. As recicladoras remuneram melhor
quando as tampinhas estão separadas por cor. A solução adotada é contar com dezenas de
voluntários que se encarregam da tarefa, separando uma tampinha por vez, manualmente. A
coleta é feita em 150 pontos de arrecadação espalhados pela Grande São Paulo. Segundo
Lúcia Maria de Campos Fragoso, fundadora da ONG, são vendidas em média seis toneladas
por mês de materiais, que permitem custear 260 castrações. “Recebemos valores um pouco
acima do mercado, porque as empresas querem ajudar a causa dos animais”, diz.
Carlito Ramos, gerente comercial da Recycling Reciclagem de Plásticos, que compra
mensalmente de três mil a quatro mil quilos de tampinhas da Ecopatas, afirma pagar R$ 2,80
por quilo, no caso das tampas vermelhas e brancas, e apenas R$ 1,80 quando são pretas ou
estão misturadas. “As tampas na cor preta são menos valorizadas pela indústria”, explica.
As tampas misturadas levam à maior produção de plástico preto e o valor cai em razão da
equação entre oferta e demanda. “Há maior disponibilidade de plástico preto reciclado no
mercado, o que tende a reduzir o preço”, resume Robson Esteves, presidente da Associação
Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (Abree), que coletou e
processou mais de seis mil toneladas de equipamentos portáteis em 2023. “Para quebrar o
ciclo, seria necessário mudar a cor dos produtos”, diz Souza, que preside o Instituto Nacional
de Economia Circular (Inec).
Talvez seja difícil, mas não impossível, transformar a linha de produção, alterando a cor do
plástico de um produto. Um exemplo é a mudança feita em 2022 pela Coca-Cola, que passou
a fabricar a garrafa do refrigerante Sprite na cor transparente, por pressão de recicladores,
abandonando a garrafa na cor verde fosca. A empresa informa que o valor de mercado da
garrafa ficou 25% maior, na comparação com a PET de pigmentação colorida.
Portal: Valor Econômico
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